domingo, novembro 11, 2007

Dia da Papoila


Quero hoje revelar um segredo: chamaram-me Fernando em homenagem a um tio-avô (Fernando Aguiar) que, antes de partir para a I Grande Guerra, casou com a matriarca da minha família paterna (a minha tia-avó Maria dos Prazeres - a madrinha Prazeres...). Voltou de lá gaseado e pouco viveu depois de regressar.

Assim surgiram os Fernandos e Fernandas na família (eu tinha/tenho vários primos com esse nome, bem como uma tia Fernanda e um tio Fernando, este tendo morrido assassinado no Brasil). E é assim que a I Guerra Mundial, directa ou indirectamente, sempre que me interessou (até porque o meu avô Joaquim - o meu padrinho Joaquim - esteve para ir para o Contingente Português que lá lutou e só se safou porque o Presidente Sidónio Pais - que ele reverenciava, em conjunto com a família real portuguesa - impediu mais envios de tropas).

Recordemos então que, hoje, data em se celebra os 89 anos desde que acabou essa tragédia mundial, há uma tradição anglo-saxónica (no Reino Unido, Austrália e, sobretudo, no Canadá, onde este é um dia muito especial, é conhecido como o Remembrance Day) de celebrar-se tal facto recorrendo a papoilas de papel (que são vendidas para apoiar os antigos combatentes - desta e de outras guerras). Isto deve-se a um poema do ex-combatente canadiano John McCrae (1872-1918), médico e tenente-coronel que, depois de enterrar um amigo, em 1915, escreveu o seguinte texto:

In Flanders’ Fields


In Flanders’ Fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.

We are the dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved, and were loved, and now we lie
In Flanders’ Fields.

Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders’ Fields.


NOS CAMPOS DE FLANDRES - Tradução livre

Nos campos de Flandres crescem as papoilas
E florescem entre as cruzes que, fila a fila,
Marcam o nosso lugar; e, no céu,
Voam as cotovias, que continuam corajosamente a cantar,
Embora mal se ouça seu canto, por causa dos canhões.

Estamos mortos... Ainda há poucos dias, vivos,
sim, nós amávamos, nós éramos amados;
sentíamos a aurora e víamos o poente
a rebrilhar, e agora eis-nos, todos deitados
nos campos de Flandres.

Continuai a nossa luta contra o inimigo;
A nossa mão vacilante atira-vos o facho:
mantende-o bem alto. Que, se a nossa vontade trairdes,
nós, que morremos, não poderemos dormir,
ainda mesmo que floresçam as papoilas
nos campos de Flandres.

Tradução/adaptação de Pedro Luna



Recordemos então os mortos, incluindo o autor do poema (que faleceu de pneumónica e meningite, quase no final da Guerra) e o seu camarada de armas a quem dedicou a poesia, até porque é honrando os que lutaram (às vezes ingloriamente e por vezes sem ser ser por uma justa causa) que iremos recordar que a Guerra é sempre nefasta. E lembremos também a americana Moira Michael, que escreveu uma réplica ao poema e ajudou a perpetuar a celebração da data - Remembrance Day, Poppy Day ou Armistice Day, consoante o país - o nosso Dia do Armistício:

Oh! You who sleep in Flanders’ fields,
Sleep sweet – to rise anew;
We caught the torch you threw;
And holding high we kept
The faith with those who died.
We cherish, too, the Poppy red
That grows on fields where valour led.
It seems to signal to the skies
That blood of heroes never dies,
But lends a lustre to the red
Of the flower that blooms above the dead
In Flanders’ Fields.
And now the torch and poppy red
Wear in honour of our dead
Fear not that ye have died for naught
We’ve learned the lesson that ye taught
In Flanders’ Fields.

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